segunda-feira, abril 24, 2006

Segunda-Feira sem fumar com vozes na minha cabeça

Sete horas anuncia meu celular. Agora é dar uma mijada, colocar a roupa, tomar um café e... droga, vem a lembrança da promessa da noite anterior: parar de fumar pela 666ª vez.
É nesse momento que começam as vozes na cabeça com seus argumentos muito bons: "Ha... tu tava brincando ontem quando disse isso", "Tem certeza que disse isso?", "Ha, mas esse primeiro da manhã depois do café tu merece, depois tu vê o que tu faz", e por fim "ah pára! tu acha realmente que vai conseguir trabalhar normalmente sem fumar?". Continuo andando, lavando o rosto, me arrumando, tomando meu café, escovando os dentes e as vozes atrás de mim como uma pessoa chata caminhando no encalço e tagarelando. Coloco minha roupa e encho os bolsos com as coisas que devem estar neles: chaves, carteira, passagens, isqueiro, cigarro. Não, não, vocês dois aí podem sair, não vão junto. Eles ganham vozes também quando são colocados de volta na escrivaninha:
- Ei cara! Eu sempre vou junto! Tu tem que me levar! Onde já se viu deixar uma cheirosa carteira de cigarro cheinha como eu sozinha nesse quarto o dia inteiro! Foi para isso que tu me tirou da prateleira no bar! Outro podia me levar, mas não, foi tu que me comprou e agora deve me fumar!". Fechar a gaveta resolve e cala a carteira de Carlton, o esqueiro fica de fora e tenta utilizar outros argumentos:
-Rapaz, leve-me pelo menos, por garantia, vai que tu desista dessa idéia maluca no meio do dia, compre uma carteira e precise de mim para acender um cigarro! Se isso acontecer eu compro outro Isqueiro também, seu isqueiro verde! Hahaha! Um isqueiro verde!! verde e de 3 por um real, Hahahah!!!
Consigo sair de casa, sem cigarro e sem o isqueiro, que vão passar o dia juntos naquela gaveta, conspirando contra mim. Eu deveria tê-los jogado da janela?
Caminho até o trem com uma agradável e ao mesmo tempo angustiante sensação de pulmões limpos, algumas coisas do trajeto de sempre parecem ter de uma hora para outra, cheiro.
Meu medo continua até a estação onde eu me sinto seguro, dentro do trem estou acostumado a não fumar alí não terei vontade, oi que de fato acontece. Mas mesmo assim, começo a ler um livro, torcendo para que nenhuma personagem fume um cigarro e que isso não seja narrado com muito talento.
O metrô chega ao destino e vem a voz no alto falante: "Estação terminal Mercado, solicitamos a todos que desembarquem nesta estação. Fume com prazer o seu cigarro e bom dia!"
Merda! É exatamente isso que eu quero fazer! Eu sempre descia do trem com o cigarro e isqueiro na mão, prontos a serem acendidos logo ao enchergar o prádio da Aplub na saida do túnel! Mas não é isso que acontece, eu respiro. Respiro normalmente, eu tenho olfato agora, pelo menos mais que na última vez que passei por aqui. E isso fede, As vozes voltam:
-Tá vendo? Mais um motivo para fumar, O mundo fede para quem não fuma... Sigo, tentando não dar bola para a voz nem para os cheiros do centro de Porto Alegre.
Chego a parada do 617, caminhando rápido como sempre, mas dessa vez não cheguei esbaforido e não apareceu nenhuma voz para exaltar isso.
Dessa vez o ônibus demorou mais. "Hahá tu sabe o que fazer para o ônibus aparecer! Acenda um cigarro! Ele sempre aparece logo que você acende um cigarro."
Cheguei atrasado.
(Continua)
(...será?)

3 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei nervosa só de ler...vou fumar um cigarro!

Verdadeira disse...

Putz, sera que eu nunca vou achar outra palavra pra descrever o que eu acho quando leio teus posts??? Bom, fazer o que né: SENSACIONAL!!! HAHAHAHAHAHHAHAHA

BJÃO AMORE

-=|*W룣*|=- disse...

mano,

eu parei de fumar no dia 25 de abril de 2006 - 1 ano atrás exatamente!!!

vc narrou o que foi minha rotina diária durante 18 anos de fumaça!

escolha um dia, e pára com essa porra...escute as outras vozes!

to aqui por causa da comuna do orkut " meu último post foi.../ Dê uma nota para o blog da pessoa acima ... tá lá a nota!

falô!